Ninguém escolhe adoecer, tampouco viver à sombra de um diagnóstico terminal. Da mesma forma, ninguém opta por nascer na pobreza e experimentar, desde cedo, o amargo sabor da miséria. Não conheço jovens que tenham decidido vir ao mundo em tempos de guerra e ter suas vidas interrompidas por um único disparo, justamente no instante em que começavam a descobrir o prazer de existir. Também não houve escolha para aqueles que nasceram negros em épocas de escravidão e foram obrigados a suportar dores que desafiam os limites do corpo e da alma. E o que dizer dos que foram vítimas de pragas e epidemias devastadoras, isolados, desprezados, entregues silenciosamente aos cuidados da morte?
Como compreender a dor de uma mãe que observa, impotente, o último sorriso do filho num leito de hospital e vê seus olhos se fecharem como quem se despede do mundo com ternura e resignação? Poderíamos passar uma eternidade resgatando histórias de sofrimento não escolhido, e ainda assim não encontraríamos uma explicação capaz de oferecer pleno conforto. Esse conforto que tantos buscam e que, por vezes, parece inalcançável.
Talvez, por isso, a única coisa que nos reste seja continuar buscando. É preciso compreender, ainda que em silêncio, que nem toda dor é fruto de uma condenação. Apenas não desista. Ainda há muitos caminhos a trilhar nesta estrada desconhecida. E quem sabe — sim, quem sabe — nesse desconhecido resida justamente o verdadeiro sentido da vida que tanto tentamos entender.


