Ao observar as correntezas deste rio que simboliza minha vida, percebi o quanto ele já foi turbulento, imprevisível, até mesmo perigoso. Mas, naquele instante específico, algo mudou. Um vento suave — como há muito tempo eu não sentia — tocou meu rosto. Da margem, um som sereno e acolhedor preenchia o silêncio da minha alma. E foi então que, num simples cruzar de olhares, o curso violento daquele rio começou a se acalmar, até que suas águas se tornaram tranquilas, quase como se refletissem lembranças de um desejo antigo — jamais saciado, tampouco esquecido — nascido em um tempo em que o colorido da vida ainda não havia se feito presente.
Nossos caminhos, ao longo dos anos, tomaram rumos distintos, quase opostos. Mas, como tantas histórias guiadas pelo acaso, houve um reencontro. Em um desses instantes em que o destino decide surpreender, nossos lábios finalmente se tocaram. Naquele breve, mas eterno momento, o rio voltou a correr — não mais em direção ao caos, mas fluindo docemente para longe da fonte de saudade que nos habitava. O medo, antes associado a essas águas, deu lugar a uma nova sensação: brilho, leveza, entrega.
Naveguei, então, por esse novo fluxo, decidido a seguir em direção a um porto seguro. Um recomeço. Um lugar onde eu pudesse, enfim, permitir-me amar de novo. E agora que estou ancorado nesse porto — onde o amor é possível, e a esperança voltou a florescer — quero lhe fazer um pedido que há muito tempo guardei comigo: traga um chocolates, alguns morangos e seus lábios. Vamos viver essa madrugada juntos, entrelaçados num abraço silencioso que diga tudo o que as palavras não conseguem.
Sei que você aprecia a solidão, que aprendeu a se bastar. Mas é tão bom ter alguém por perto. Alguém com quem dividir emoções, momentos simples e verdadeiros. Alguém com quem compartilhar a felicidade, sem medo. Compreendo que seu coração já se enganou, e que o receio de se entregar novamente talvez ainda lhe assombre. Mas estou aqui. E quero que saiba: pode segurar a minha mão. Segure com firmeza. Não vamos mais enfrentar essa correnteza sozinhos.
Que essa nova travessia nos una ainda mais. Que nossas almas se fundam em uma só paixão. Porque, mesmo que por muito tempo tenhamos navegado solitários, a partir de agora, a jornada é a dois. E eu te prometo: neste rio da vida, jamais soltarei sua mão.


