Vendo a luxúria da sociedade atual
A busca pela riqueza
E a ganância de um predador animal.
Isso não mexe apenas com um coitado ou infeliz.
Essa loucura mexe com a estrutura do país.
Começo a pensar onde vivo;
Como vivo e nas pessoas que me rodeiam;
Seria minha existência algo importante…
Ou apenas mais um passeio?
Passo a pensar no valor do dinheiro e no seu Real valor.
É quando começo a sentir a mais íntima dor.
A dor do desconhecido e do não vivido
Diante de uma sociedade cheia de bandido.
Bandidos que não estão atrás das grades
Nem dentro das favelas
Mas levando uma vida boa
Igual a galã de novela.
Sou poeta! Morador da periferia.
Trago rimas e versos
Dessa amarga, doce vida de agonia!
Apesar da pouca idade,
Logo cedo eu entrei pra faculdade.
No meu tempo não tinha enrolação.
Para entrar no campus tinha que vencer o bicho papão.
Não tinha bolsa ou cota para ninguém
Tinha que ser bom na caneta.
Se não, outra chance…?
Só ano que vem.
Ir bem na faculdade era minha obrigação.
Minha família muito pobre.
Não havia outra solução
Minha mãe de pouca coisa entendia.
Mas era certo e ela sabia
Sem educação…
Neste mundo perverso…?
Ah, eu não sobreviveria.
Sou poeta! Morador da periferia.
Trago rimas e versos
Dessa amarga, doce vida de agonia!
Com o passar do tempo passei a observar;
E não demorou muito
Tive que me preocupar.
Agora eu não era mais aquele menino
Que brincava na rua sem compromisso ou preocupação
Eu era a esperança e o orgulho daquela população.
Todas as mães me olhavam
Como exemplo a ser seguido pelos filhos
Pena que elas não entendiam
Que por sorte ou destino
Minha conquista era uma exceção
Pois a maioria da minha idade
Já eram membros da facção.
Sou poeta! Morador da periferia.
Trago rimas e versos
Dessa amarga, doce vida de agonia!
Agora volto à ganância social;
Toda a luxúria e a soberba do mal.
Ela está presente aqui na favela
Entre o poderoso e o marginal.
Mas não se engane meu irmão…
Ela é mais forte lá na Corte marcial.
Nossos líderes em todos os cantos da nação
Estão preocupados com o próprio umbigo
E sua glamorosa refeição.
São cegos, mudos e surdos
Para as mazelas do povão.
Os mais pobres são ignorados
Nesse caminho pisoteado.
Virando uma estatística
Inclusos entre os que mendigam um prato de comida.
Os carros de luxo e vidro blindado
Passam sem observar os meninos desamparados.
Descalços, sujos, melados ou empoeirados.
É o sabor da periferia.
Que adoça e amarga
A vida de qualquer família.
Mas uma coisa não se pode negar
Esta luta pela sobrevivência
Através de muito choro e sofrência…
Para comprar o arroz e feijão fiado na venda…
É o que faz um povo guerreiro ter força pra lutar
Tudo, sem negar as origens…
E quando possível
Sua voz levantar!
Sou poeta! Morador da periferia.
Trago rimas e versos
Dessa amarga, doce vida de agonia!


