Roça: Ensinamentos para a vida

A única lembrança que tenho da minha infância é a enorme coragem de minha mãe. Uma mulher de poucas palavras e de grande força. Ela não tinha muito com quem conversar, pois o trabalho na roça, às vezes, era muito solitário. Apesar de muitos olharem com “vista grossa” para aquilo, eu podia perceber, mesmo sendo um pequeno menino, que aquele trabalho de plantar feijão, roçar o mato e cortar pés de milho não era considerado coisa de mulher.

Foi então, num dia de reflexão sobre meu passado de pouco sofrimento – se comparado ao de minha mãe –, que senti vontade de perguntar-lhe por que ela se dedicava àquilo. Aquela senhora respeitada por muitos e honrada por mim pôde me explicar o significado de tudo aquilo em sua vida. Somente naquele dia pude compreender meu presente.

Certamente, na vida, tudo é feito de escolhas. Algumas são tidas como boas, outras como ruins. Mas, na maioria delas, sempre haverá sacrifício. Na época de mamãe não existiam essas coisas de Bolsa Família, Bolsa Escola e tantos outros benefícios. O produto industrializado só chegava às mãos de quem tinha dinheiro e poder. Para uma mulher com três filhos e sem esposo, a única ajuda real que recebera vinha dos hectares de roça de sua humilde propriedade. Da roça tirava-se o sustento; era dela que vinham os lápis com que eu escrevia e as poucas folhas do meu pequeno caderno de capa amarela.

Para essa mulher, a roça era a solução, nunca o problema, como muitos consideram. A roça era vida e proporcionava vida para cada um de nós. Era proteção e garantia do amanhã.
Por isso, hoje descobri o motivo de ser feliz. Porém, o mais importante foi entender que minha mãe, naquele tempo em que ia todos os dias para a roça, também era feliz. E graças à roça compreendi o valor do trabalho, do sacrifício e do amor fraternal.

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