– “Mãe, precisa mesmo disso? Óleo de novo?” Gente, vou já explicar essa história do óleo direitinho. Só que antes, tenho de confessar: Amo meu Acre! Ah, e como… Chamo até de “meu”. Mas assim… Chega julho e a “sicura”, como minha mãe costuma dizer, entra pela portinhola da cidade, junto com uma cortina de fumaça, e, “arreboque”, um sopro do Sul, às vezes gelado das friagens, e… Pronto! O nariz resseca, a garganta arranha, os lábios queimam por conta do “frio da quintura”. 
[Não me perguntem. Não sei explicar]. E até meu humor muda. Melhor não me incomodarem até o final de outubro.
Pois bem, o “óleo”! Ia esquecendo. Já deu pra entender que sou avesso a essa época do ano; e minha mãe, sempre amável e com aquele aconchego materno, procurava amenizar meu sofrimento durante essas estiagens… Uma das soluções: Passava óleo de cozinha no meu rosto. 
Não me façam detalhar isso. “Zero” a fim de lembrar dos pormenores; as recordações ainda vêm acompanhadas de arrepios mesmo vinte anos depois. Era o que ela devia ter; conhecer; sei lá… Só sei que era amor. Melhor pensar assim.
E é disso que faço questão de relembar. A propósito, dia desses qualquer, de julho, voltava estressado do trabalho [afinal, era julho], e, à esquerda, à beira do asfalto, debaixo de uma pequena sombra, nem de árvore era, o alívio era baixo, vinha do capim do acostamento… Sol forte, tempo seco, aquele cenário do começo descrito; e à sombra do mato curto, um senhor roçador, em pausa para o almoço. Passo rápido, mas noto! – “Tenho de voltar, penso.” Nem titubiei. 
Foi a ré mais “pra frente” que já dei. E o melhor: Acabara de comprar picolé naquele instante, naquela rua. – “Senhor, pra depois do almoço, ta?”! – “Obrigado, meu filho”!
Fui sem o gelado pra casa. Mas um coração quente numa tarde quente, de um dia de julho seco nunca foi tão refrescante pra mim… Óleo eu não tinha pra dar àquele senhor [felizmente, isso só deve ser coisa da minha mãe]; mas é dessa mania louca que me veio a empatia. 
Parar, voltar e ajudar! Acre, eu te amo! Mãe, eu a amo! Mas não troco um picolé por um copo de óleo, nem um belo dia de chuva por uma tarde de “sicura”. Parar por aqui. 
A sensação ainda me perturba. Prefiro me refrescar com as memórias de minha boa ação, numa bela tarde de verão [ bela nada… Ô “ sicura que não passa!”].
Por Erivelto Silva