Amores e paixões

Parece que os encontros e desencontros da vida foram feitos como se, por ironia, nunca devessem realmente se acertar. Grandes amores muitas vezes se esbarram em tempos opostos, como se cada um tivesse chegado atrasado à própria história. As paixões, por sua vez, passam lado a lado, mas sem jamais se tocarem — como se um véu invisível as impedisse de se entrelaçar. As mãos, inquietas, se procuram, mas não se alcançam. E os olhares… ah, os olhares… seguem cegos um ao outro, cruzando-se no vazio, como dois estranhos que quase se reconhecem, mas desviam antes do reencontro.

E assim seguimos, entre suspiros guardados que se perdem no silêncio, e palavras que morrem sufocadas na garganta. Caminhamos em passos quase sincronizados, quase, mas sempre tropeçando no compasso imperfeito do tempo. O destino, em sua estranha dança, parece brincar com linhas partidas, com versos que se recusam a rimar. É como se a vida escrevesse poemas interrompidos, histórias com finais sempre adiados.

Mas talvez — e é aí que mora a esperança — num leve descuido do relógio, num instante em que o tempo se distrai ou o vento sopra em desobediência, os desencontros finalmente se tornem encontros. E então, naquele instante breve, silencioso e mágico, os olhos enfim se reconheçam. Talvez tudo o que buscamos esteja escondido nesse segundo imperfeito, onde o tempo cede, e o destino, por fim, permite que duas almas se toquem no silêncio de um instante perfeito.

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