Naquela manhã, ao abrir os olhos, ajoelhei-me em silêncio para agradecer pela dádiva de mais um amanhecer. O som dos pássaros, ao fundo, compunha uma melodia tão esplêndida que tocava minha alma. E, ao manchar as folhas do papel com tinta preta, pensamentos inevitáveis começaram a emergir. Lembrei-me, com pesar, daqueles que recentemente foram levados pela sombria presença da morte — essa força silenciosa que chega sem avisar e, mesmo diante do mais forte e corajoso, o faz se render em lágrimas diante da perda de alguém amado.
Pensei nas expectativas que se perderam, nos sonhos que jamais se realizarão, nos talentos que não tiveram tempo para florescer. Recordei os sorrisos que já não veremos novamente e os olhares que, mesmo ausentes, jamais serão esquecidos. Visualizei o pai que, com tanto esforço, derramou suor dia após dia, trabalhando sem cessar para realizar o sonho de ver sua filha formada na universidade. Pensei naquela mãe que esperava ansiosamente para escolher com a filha o vestido de casamento — aquela menina que cresceu diante de seus olhos e se tornou uma mulher. Lembrei-me também do irmão mais velho, o eterno protetor, que contava os dias para poder levar o caçula a uma pescaria no rio dos grandes peixes.
E como esquecer os avós? Tão ternos, tão cheios de histórias e ensinamentos. Agora, não estarão mais presentes para iluminar o caminho de uma nova geração. O mundo, parece, realmente virou de cabeça para baixo. Muitas das pessoas que amamos agora descansam eternamente, enquanto tantas outras, anônimas, seguiram o mesmo destino — envolvidas por um universo desconhecido aos que aqui permanecem. Em um único instante, fomos forçados a redescobrir a fragilidade da nossa existência. Redescobrimos o quão vulneráveis, sensíveis e frágeis somos. E, com ainda mais força, fomos lembrados de que a maior ameaça da humanidade muitas vezes não vem de fora, mas de dentro de nós mesmos — quando nos deixamos consumir pela ganância, pelo orgulho, pela arrogância, por atitudes impulsivas e egoístas que desrespeitam até mesmo a natureza.
Quando não somos nós que nos autodestruímos, a natureza — em sua sabedoria e mistério — responde. E responde com força, às vezes de forma implacável. Mas, naquele instante em que meus pensamentos estavam mergulhados em tristeza e contemplação, ouvi novamente a melodia suave dos pássaros. E algo dentro de mim mudou. Novos pensamentos, novos sentimentos, começaram a tomar conta do meu coração. E então compreendi, com clareza absoluta: precisamos continuar.
O filho deve, sim, concluir sua faculdade, com orgulho e honra — pois, lá do céu, o pai o observa com lágrimas de alegria nos olhos. A filha precisa subir ao altar, vestida de branco, com o coração cheio de amor — pois sua mãe estará presente, mesmo invisível, com um lenço celeste enxugando suas lágrimas. O irmão mais novo precisa crescer, tornar-se forte, aprender a navegar o rio da vida — pois o mais velho estará sorrindo e torcendo, onde quer que esteja. E os avós? Ah, esses certamente pedem permissão, todas as noites, para descer do céu até nosso quarto e nos darem um beijo de boa noite.
Eles se foram. Mas ainda cuidam de nós. Por isso, precisamos continuar. Precisamos viver de forma diferente. Ser melhores, mais humanos, mais sensíveis. Precisamos iluminar os caminhos dos que estão à nossa volta, ser farol para os que vivem na escuridão. Precisamos sorrir mais, permitir que o vento toque nosso rosto, valorizar os instantes simples, que tantas vezes desprezamos. Talvez assim possamos, finalmente, compreender a verdadeira essência da existência.
No fundo da alma, sinto que esse seria o último desejo daqueles que se foram: que vivamos com mais presença, mais amor, mais gratidão. E é por isso que, mesmo diante de tantas perdas e saudades, mesmo com as dores que nos habitam silenciosamente, sigo repetindo para mim mesmo, com fé e esperança: precisamos continuar.


